julho 30, 2005
Joel Silveira, e «O Inverno da Guerra»
Joel Silveira – 86 anos e mais de 60 de profissão – é considerado o repórter que mudou o jornalismo brasileiro. Foi correspondente de guerra, colunista, editor. Tem vários livros publicados como: Viagem com o presidente eleito, A camisa do Senador, A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista, A Feijoada que Derrubou o Governo e o Diário do Último Dinossauro. O Gávea já o incluiu entre os seus autores.
A Objetiva acaba de lançar O Inverno da Guerra, reportagens de Joel Silveira durante a II Guerra, quando partiu para a Europa ao serviço da cadeia de jornais de Assis Chateaubriand, os Diários Associados, acompanhando o contingente brasileiro «até à rendição alemã».
Reedição de Verissimo
O primeiro romance de Verissimo, um thriller bem-humorado, O Jardim do Diabo (Editora Objetiva) acaba de ser publicado e inteiramente revisto pelo autor. Conta a história do assassinato de uma mulher que envolve Estevão, autor de romances policiais. A primeira frase é fabulosa. Mais ou menos isto: «Tratem-me por Ismael e eu não respondo; meu nome é Estevão.» A Objetiva também lançou uma versão das tiras de Aventuras da Família Brasil.
Novo Rubem Fonseca. Morram de inveja!
O novo romance de Rubem Fonseca leva o título A Bíblia e a Bengala (Companhia das Letras) e vai entrar em distribuição em breve. Assunto do novo livro: o roubo de um dos raros exemplares da Bíblia de Mogúncia, de Gutenberg, e o desaparecimento de uma assassina bengala Swaine. Para amantes de Rubem, no entanto, há um pormenor essencial a ter em conta: o personagem principal é o investigador e advogado criminalista Mandrake, o mesmo de A Grande Arte, a obra-prima de Rubem, prémio Camões de 2003.
Extractos do livro:
«Você me disse que não se envolvia com mulheres casadas e você e ela estavam fodendo, o marido deve ter descoberto e você matou o infeliz, você é um assassino, um mentiroso, um canalha que se finge de bonzinho, pensa que eu não sei por que fodia comigo? Para fazer uma boa ação, para se redimir dos seus pecados, eu, o doutor Mandrake, sou bonzinho, estou fodendo a aleijadinha, eu vou para o céu. Você vai é para o inferno, seu filho-da-puta. Helena arrancou os sapatos e andou pela sala, mancando. Está vendo a aleijadinha que tem uma perna mais curta que a outra, que você, para conseguir foder, tomava Viagra escondido ou outra merda dessas, olha para mim, seu pulha, olha para a aleijadinha.»
«Meu pai passava o dia e a noite acordado, quando ia para a cama ficava lendo e eu lhe pedia que parasse de ler, apaga a luz de cabeceira e vamos dormir, eu dizia, e ele respondia que não queria dormir e quando não estava lendo ficava de olhos abertos olhando para o teto ou para a janela. Fecha os olhos, eu pedia. Não fecho, não posso fechar os olhos, se fechar os olhos eu morro. A luz da cabeceira permanecia acesa, eu acordava no meio da noite, do meu sono agitado, e lá estava ele, de olhos abertos, olhando para o teto. Um dia notei que ele estava de olhos fechados e pensei, aliviado, afinal ele dormiu, e apaguei a luz da cabeceira. Quando acordei, pela manhã, ele estava morto.»
A Grande Arte, de Rubem Fonseca, foi publicado pela Companhia das Letras no Brasil; há uma edição portuguesa publicada em 1987 pelas Edições 70.
Porto Alegre, São Paulo, Recife
«Como disse, Porto Alegre é de facto a metrópole mais européia do Brasil. Convivem descendentes de alemães, de italianos e, sobretudo, de açorianos. Há, também, um imenso bairro da diáspora ashkenazi. Recife, quase 4.000 km na direção nordeste, é também um encontro de gentes de diferentes origens: portuguesa, africana e autóctone. Em Porto Alegre há uma saudável competição entre as culturas que integram a cidade. Já Recife, no que toca à civilização, é quase exclusivamente portuguesa. O rosto de Porto Alegre é europeu e o de Recife mestiço, moreno. Em ambas as metrópoles, ainda que por diferentes razões, os portugueses encontrarão muitas afinidades. Já São Paulo seria a única capital de vocação autenticamente "americana", a representar mais um aspecto dos diferentes Brasis...»
Ficamos à espera de indicações sobre tertúlias pernambucanas.
Curso Breve de Literatura Brasileira
Para mostrar apenas a capa do primeiro volume da colecção, Curso Breve de Literatura Brasileira, da Cotovia, o Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado. Abel é, de facto, o grande divulgador da literatura brasileira em Portugal, um dos autores do melhor blog português do momento, o Casmurro, onde colaboram também Osvaldo Silvestre, Manuel Portela, Pedro Serra ou Gustavo Rubim.
Abel Barros Baptista é autor de, entre outros, O Professor e o Cemitério. Rusga pelo «José Matias» de Eça de Queiroz Entendido como Percurso de Assassinatos Regulares, 1986; Auto Bibliografias. Solicitação do Livro na Ficção e na Ficção de Machado de Assis, 1998; A Infelicidade pela Bibliografia, 2001. Director-adjunto da revista Colóquio/Letras, Abel escreve em jornais e revistas de Portugal e do Brasil e é co-autor, com Luísa Costa Gomes, do romance O Defunto Elegante (Lisboa, 1996) e, com Gustavo Rubim, de Importa-se de me emprestar o Barroco?. O seu mais recente livro de ensaios é Coligação de Avulsos. Ensaios de Crítica Literária (na Cotovia).
Foreign sound
O Festival de Cinema de Gramado foi pouco mais do que chato. Mas havia frio suficiente, chuva e neve como promessa. Novidade excelente: vinho tinto muito bom, o da Cantina, um cabernet sauvignon de que foram arrebatadas as melhores garrafas para um grupo que ocupou a esplanada aí acima. A Rua Coberta, mesmo em frente, foi palco para tardes de conversa. E parece que havia filmes, sim.
julho 29, 2005
Barão de Itararé.
Frase deliciosa, não?
Ver mais aqui sobre o gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé.
Delírio do blogger, na verdade
Publicado na última edição da LER, em Portugal, o conto «O Manuscrito de Buenos Aires». Link aqui. Um falso Quijote.
Cruz Alta, Verissimo
Texto da crónica completa aqui.
A não perder, em viagem, 2
A não perder, em viagem, 1
Ulysses brasileiro
Até agora, o leitor de língua portuguesa tinha duas versões disponíveis do Ulysses, de Joyce: a de João Palma Ferreira (edição Livros do Brasil) e a de António Houaiss (edição, no Brasil, da Civilização Brasileira; edição portuguesa na Difel). Bernardina da Silveira Pinheiro, professora carioca e já tradutora de Joyce (Retrato do Artista Quando Jovem) e de Lawrence Sterne, preparou uma nova versão, agora publicada pela Objetiva.
Só pra não dizer que não falei.
O pícaro moderno?
Negritude revisitada.
Política sem correcção
Reinaldo de Azevedo é uma das vozes politicamente incorrectas do Brasil de hoje. Jornalista, passou pela Folha de São Paulo, pela Bravo, pela República (de boa-memória) e pode agora ser lido na Primeira Leitura. A editora Barracuda lança Contra o Consenso, reunião de alguns dos seus textos mais marcantes sobre cultura, sociedade, arte e – sempre – política.
Brasil radical
Reunião de fantasmas: o rapper MV Bill, o entusiasta do hip-hop Celso Athayde e o sociólogo Luiz Eduardo Soares lançam um livro a seis mãos, Cabeça de Porco (edição Objetiva) sobre a relação entre drogas, hip-hop, rap e a cultura urbana em cidades brasileiras da linha da frente (São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte…).
Caio redescoberto
Redescoberta no Brasil e ainda ignorada e muito pouco lido em Portugal, a ficção do gaúcho Caio Fernando Abreu (1946-1998), em reedição permanente: a editora Agir publicará em 2006 grande parte da obra do autor de Onde Andará Dulce Veiga? (Companhia das Letras), que passa agora ao cinema, adaptado por Guilherme de Almeida Prado. Entretanto, acaba de ser publicado o volume de contos Morangos Mofados, depois de Caio 3D – O Essencial da Década de 1970, onde se reúnem contos, poemas, cartas, e a extrema beleza de uma obra que procura sempre uma felicidade rara.