fevereiro 17, 2005

Desvario



Lamentamos informar que o Gávea se encontra aqui, folheando livros. Nem todos recentes, mas isso não conta.

fevereiro 05, 2005

Adélia Prado



Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de Dezembro de 1935. A sua poesia está reunida em Poesia Reunida, publicada pela Siciliano.

Bienal 2005


A XII Bienal do Livro, no Rio, será de 12 a 22 de Maio. Aceitam-se marcações de encontros para cafezinho e chope. O Gávea vai estar lá.

Já agora, a VI Bienal Internacional do Livro da Bahia, será em Salvador, de 2 a 11 de Setembro. Ainda falta muito. Daqui até lá, veremos o apetite para o acarajé.

Mussa

Alberto Mussa, com O Enigma de Qal (Record) distinguido com um dos prémios da Casa das Américas. Para mais informação sobre Mussa e este livro, ver o Gávea, aqui.

Espinosa

Logo depois das férias (estamos a falar do Brasil), a Companhia das Letras receberá o manuscrito do novo livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza, um romance sem o inspetor (ou inspector?) Espinosa como personagem central. Para aqueles que não passaram por lá, aqui se recorda o texto «Espinosa de A a Z», no Textos da Gávea, bem como uma entrevista de Garcia-Roza publicada na revista Ler, em Portugal, e transmitida na rádio Antena Um, de Lisboa. A entrevista levava o título «Um Marlowe brasileiro».

Carregamento

O Gávea, daqui a dez dias, estará no hemisfério sul. Voltará carregado de livros. Não se aceitam encomendas.

Novidades brasileiras na Cotovia

André Jorge, o editor português da Cotovia (Sérgio Sant’anna, Bernardo Carvalho, etc.) anuncia que publicará o novo Sérgio Sant’anna – e está a ponderar publicar, finalmente, João Gilberto Noll. Finalmente. Pedro Mexia, por outro lado, prepara um volume com as crónicas de Nelson Rodrigues também para a Cotovia. A Cotovia, já agora, prepara uma colecção inteiramente dedicada à literatura brasileira, coordenada por Abel Barros Baptista.

Futebol, cara



Para os que gostam de futebol e estão de férias de bola, aqui está As Capas da Copa, Orlando Duarte e Fábio Amaro, que reúne, além do mais, as principais capas dos jornais do mundo inteiro no dia primeiro de Julho de 2002 -- justamente o Brasil obteve o penta no dia anterior. A edição, ah! surpresa!, é da Cosac Naify, uma editora que merece destaque pelos seus grafismos.

Moçambique no Brasil



E também para os nossos amigos que podem emigrar para Tabatinga e que gostariam de espreitar um pouco de Moçambique, a Companhia das Letras já publicou dois livros de Mia Couto: Um Rii chamado Tempo já está nas estantes, e O Último Voo do Flamingo chega às livrarias brasileiras na próxima semana.

Mesmo que fosse obsessão



Mesmo que fosse obsessão, isto das obras de Verissimo (na Companhia das Letras). Para os nossos amigos que podem emigrar para Tabatinga e ler a última parte de O Arquipélgo, da trilogia O Tempo e o Vento. Acaba de sair Do Diário de Sílvia, o retrato que Verissimo faz de uma professora de 25 anos e da sua forma de romper o casamento com um estancieiro (fazendeiro, para os amigos portugueses) do pampa.

Emigrar antes do Carnaval



Para os nossos amigos que não podem emigrar para Tabatinga, fica aqui O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro, de Felipe Ferreira, edição Ediouro.

Agualusa

Por estes dias, José Eduardo Agualusa chega ao Brasil. Peregrinações de cidade em cidade.

A viagem de Iaqub, 2

Como seria Manaus nesse ano de 1894, quando Iaqub desceu do barco, no Rio Negro, e viu as obras das ruas, a lama dos pátios? Devia ser um desgosto grande e uma dor sem nome, porque a Serra de Contamana, a fronteira com o Peru, tinha o perfil negro da maldição lançada sobre todos os homens solitários que se atrevem a enfrentá-la ao fim do dia. Em Manaus, o Rio Negro assustara-o: os únicos rios que vira, em sonhos certamente, tinham sido os rios da Mesopotâmia, e nenhum era tão grandioso, tão frio, tão profundo e tão escuro como aquele Amazonas que o barco persegue de Belém para Santarém e, finalmente, de Santarém para Óbidos, de Óbidos para Juruti e Itacoatiara, de Itacoatiara até às águas sujas de Manaus, onde Iaqub chegara em Dezembro de 1894, numa manhã de domingo em que os sinos tocavam às primeiras horas da manhã e se aproximava o Natal dos cristãos.

Memórias do Rio Grande

Silvia Chueire/Eugenia Fortes, sobre Veríssimo (vem nos comentários): «Li O Tempo e o Vento quando tinha em torno de dez ou onze anos. Ana Terra devo ter lido umas três vezes, impressionada sempre com a força, a coragem, a beleza da história, da Ana. E principalmente porque aos meus olhos infantis tudo decorria como num filme. Eu via claramente paisagens, ambientes e personagens.E abosorvia o sentimento gaúcho. Ainda hoje me lembro de como "sonhei" o Rio Grande Do Sul, aqueles lugares todos. As vidas, as tramas.»

A nova Lusitânia, ou o Recife

De um leitor do Recife (está nos comentários): «A distância geográfica entre o Rio Grande do Sul e o Recife é bem maior do que a que separa Pernambuco do Senegal. Não surpreende que um visitante recifense se sinta meio estrangeiro em ambos os longínquos sítios. O que nos une é a marca portuguesa, indelével tanto na Nova Lusitânia (assim se chamava Pernambuco até o séc. XVIII) e as terras gaúchas, povoadas que foram por açorianos. O que nos torna diferentes é que em Pernambuco os portugueses (frequentemente da região de Viana do Castelo, mas também houve açorianos) se misturaram com as índias, e posteriormente agregaram o componente africano. Já no Rio Grande do Sul costeiro vê-se muito mais nitidamente Portugal no rosto das pessoas (no interior, alemães, italianos, e alguns mulatos na região de fronteira) e a imigração, apesar de ter seus 200 anos, é muito mais recente. Pernambuco já tentou se libertar do Brasil por duas vezes, no séc. XIX. O Rio Grande do Sul também fez das suas. Mas o casamento até que tem sido duradouro...»

fevereiro 01, 2005

Entrevista com Luiz Antônio Assis Brasil



A Margem Imóvel do Rio, de Luiz Antônio Assis Brasil será finalmente publicado em Portugal, pela Ambar (edição brasileira na LPM, de Porto Alegre). O autor estará em Portugal para as Correntes d'Escrita, a realizar na Póvoa de Varzim, já dentro de duas semanas. Leia aqui o extracto de uma entrevista transmitida em Portugal pela rádio Antena Um.

Entrevista com Milton Hatoum


Leia aqui um extracto da entrevista de Milton Hatoum, transmitida pela rádio Antena Um (Lisboa) -- publicada na revista LER.

Mais Verissimo



Depois de começada a trilogia o Tempo e o Vento, uma boa ideia para a reedição da obra completa do escritor, a Companhia das Letras lança Ana Terra, de Erico Verissimo -- parte da saga, claro, juntamente com os três volumes de O Arquipélago, O Retrato e O Continente , já reeditados. Já tinha chegado às livrarias a nova edição de Incidente em Antares. Um extracto de Ana Terra:
«Ana Terra descia a coxilha no alto da qual ficava o rancho da estância, e dirigia-se para a sanga, equilibrando sobre a cabeça uma cesta cheia de roupa suja, e pensando no que a mãe sempre lhe dizia: "Quem carrega peso na cabeça fica papudo". Ela não queria ficar papuda. Tinha vinte e cinco anos e ainda esperava casar. Não que sentisse muita falta de homem, mas acontecia que casando poderia ao menos ter alguma esperança de sair daquele cafundó, ir morar no Rio Pardo, em Viamão ou até mesmo voltar para a Capitania de São Paulo, onde nascera. Ali na estância a vida era triste e dura. Moravam num rancho de paredes de taquaruçu e barro, coberto de palha e com chão de terra batida. Em certas noites Ana ficava acordada debaixo das cobertas, escutando o vento, eterno viajante que passava pela estância gemendo ou assobiando, mas nunca apeava do seu cavalo; o mais que podia fazer era gritar um "Ó de casa!" e continuar seu caminho campo em fora. Passavam-se meses sem que nenhum cristão cruzasse aquelas paragens. Às vezes era até bom mesmo que eles vivessem isolados, porque quando aparecia alguém era para trazer incômodo ou perigo. Nunca se sabia. Uma vez tinham dado pouso a um desconhecido: vieram a saber depois que se tratava dum desertor do Presídio do Rio Grande, perseguido pela Coroa como autor de sete mortes. O pai de Ana costumava dizer que, quando via um leão baio ou uma jaguatirica, não se impressionava: pegava o mosquete, calmo, e ia enfrentar o animal; mas, quando via aparecer homem, estremecia. É que ali na estância eles estavam ressabiados.»