janeiro 31, 2005

A viagem de Iaqub, 1

Para quem nunca esteve na Amazônia, é difícil imaginar como se chega quase à nascente do Juruá-Mirim, tanto mais que o rio nunca foi muito navegável. Não era rio de pesca, não era rio de gente, sobretudo na época das chuvas, de Outubro a Maio, e alguém só podia chegar a ele saltando de rio em rio, de igarapé em igarapé, de colina em colina, sobrevivendo aos ataques dos índios, às alucinações, aos animais desconhecidos e às febres.

1 comentário:

Sinhá Menina disse...

Sim... Sei exactamente do que fala. Ainda mais ao fundo desse nó de igarapés. Sei dos banzeiros do Grande Rio Fêmeo e dos povos que vivem entranhados na Floresta. Sei, sim. Sei desse chão primeiro que nunca nenhum olho de turista há-de conseguir contemplar suficientemente nú. Pelo menos enquanto for só assim: um passageiro olho à superfície.
... Deixe-me tão só sussurrar-lhe baixinho: no lugar da vida não se "sobrevive"... e o bravo guerreiro da Grande Nação Tupi não ataca, nem fere... lá, onde a onça espreita, há um colo verde, um beijo de iapurú que protege até as crias aí chegadas das praças do Velho Império. Como eu. Se voltar à nascente do Juruá-Mirim, se alguma vez alcançar o Vale do Javari ou qualquer outra terra dos Tupinambá, atreva-se sem receio: o Índio e a Floresta têm o faro dos bichos!... eles saberão reconhecer outro Filho da Terra. Vá sim, eu garanto. Chame pelo meu nome se algum dia precisar. Prometo chegar-lhe na asa da garça, se acaso não se assustar: é que trago cinco penas de arara vermelha presas ao cabelo, duas guelras de boto rosado no lugar da boca e, entretanto, cresceu-me entre as pernas uma cauda de Yara rasa em noite de lua gorda. Mas chame! Chame, sim. Se precisar. Se quiser. Se voltar. Se se atrever mais uma vez.

Fica um Beijo Meu.

Sinhazinha