dezembro 18, 2004

Rio Atlântico

O António Viriato, do Alma Lusíada, deixou este texto na caixa de comentários do Gávea. Acho que pode ser um ponto de partida para uma discussão, como a que ocorreu aqui acerca do Acordo Ortográfico:
«A iniciativa do blogue Gávea, votado a promover o conhecimento recíproco da comunidade luso-brasileira, é, em si mesma, muito louvável, no deserto actual dominante na matéria.Mas, para lograr verdadeiro êxito, deve deixar-se de cedências ao politicamente correcto e não ter medo de tocar em certos temas-tabu, como a pouca simpatia e a diminuta curiosidade dos brasileiros, em geral, pela realidade portuguesa, seja ela de que tipo for: económica, política, histórica, artística ou literária, apesar dos esforços meritórios e persistentes de uns poucos, de ambas as margens do Atlântico. Não basta falar a mesma língua, para que nos entendamos ; é preciso alguma predisposição mental para compreender o nosso interlocutor e aqui parece-me que há um longo caminho a percorrer, sobretudo da parte dos nossos irmãos brasileiros. [...]»

9 comentários:

Silvia Chueire disse...

Está bem, eu que resisto tanto a este tipo de discussão, não resistirei desta vez. : )
O Gávea é muito bem-vindo, não apenas porque divulga a literatura brasileira para os portugueses, mas porque o faz também para nós brasileiros (não há um blog brasileiro com esta variedade de informações ao que eu saiba). Porque tem a liberdade de comentar literatura, eventos, livros, autores e abrir tudo isso aos comentários. Ou seja, à troca de opiniões.

Quanto aos "temas-tabu", não creio que sejam temas-tabu. Nunca percebi aqui pouca simpatia pelos portugueses ou pelas vossas manifestações culturais, políticas, etc. O que percebo claramente , aí sim, é o nosso desconhecimento, a pouca informação que temos. Suponho , e isso é apenas suposição, que o mesmo só não se dá em Portugal do mesmo modo pela invasão maciça de informações via TV. E o tipo de demanda que isto causa.
O mais creio que são apenas idéias pré-concebidas e que é responsabilidade de todos nós independentemente da nacionalidade, divulgar seriamente junto a outros paises o que está acontecendo. A verdade é que aqui temos raríssimas notícias do que aí acontece.
Quer na TV, quer nos jornais. O que pode fazer também supor que é nossa a responsabilidade pela não divulgação - a media não achar interesse nisto, por exemplo -. E vossa que deviam estar a divulgar o vosso país mais dedicadamente, o que os blogs portugueses têm o mérito de tentar fazer, mesmo que indiretamente. E digo isto sem a menor sombra de antipatia ou irritação, mesmo porque conheço Portugal e suas circunstâncias bem mais do que a maioria e gosto do vosso país e do povo. Muito mesmo.
Grande abraço,
Silvia Chueire

António Viriato disse...

O desconhecimento mútuo da Comunidade Luso-Brasileira entronca numa série de equívocos muito antigos, alguns vindos do tempo da independência do Brasil, com recriminações e queixas de ambos os lados. Mas não valerá a pena evocar ou mexer em feridas, que podem de novo sangrar. Melhor é deixá-las sarar de vez e procurar ultrapassar a situação presente de injustificável ignorância recíproca e aproveitarmos as poucas oportunidades que surgem para divulgarmos entre nós aquilo que de bom se vai fazendo no campo cultural, sobretudo, e como juntos poderemos trabalhar pela dignificação de uma cultura original, assente numa língua comum. Que não fiquemos na situação uma vez caricaturada por, creio, Bernard Shaw ou Oscar Wilde, a respeito da relação entre os EUA e os britânicos : povos diferentes separados por uma língua comum. Que nunca isto se possa dizer da nossa Comunidade, em que se poderia incluir uma outra família mais alargada, como a que resultou do contacto e do convívio dos portugueses de quinhentos por esse largo mundo. Para fomentar esse desejado conhecimento aqui temos uma boa iniciativa na criação deste espaço generosamente oferecido pelos diligentes autores do Gávea. Aproveitemo-lo, pois. Carpe diem.

António Viriato disse...

Correcção : onde está «EUA» leia-se «americanos».

Elton Pinheiro disse...

Caríssimos,
A proposta do Gávea, para mim, é linda. Para outros também. Outros, tanto quanto eu, que atravessaram a bordo de um geração pálida (no Brasil)o fim de um regime pouco afeito às Artes, ao outro. Venho aqui e aprendo; de certa forma, trago o Brasil comigo. O Brasil que não me mostra a beleza dos autores portugueses tanto quanto poderia. O Brasil que, nem mesmo dos autores brasileiros parece ter orgulho.

Eu estou curtindo demais (o Gávea), tenho lido ótimas páginas, tenho bebido da fonte rica de Portugal. Lamento que em geral ela seja tão mais interessada, preparada talvez. É claro, o BRasil é esse sistema de erros administrativos que se engole com propaganda de cerveja e seio de mulher bonita, e que assiste ao Domingo no programa de auditório, lê revista de novelas e as vê. Tão distante de Saramago quanto de Guimarães Rosa. É preciso paciência; como diz na Bíblia, "aquele que perseverar até o fim, este será salvo." Não poderemos modificar décadas rapidamente.

Se vocês, caros amigos, estiverem aprendendo tanto quanto eu aqui, então estamos mesmo começando a trilhar um caminho louvável. Admirável até.

Abraços,

Anónimo disse...

Boa noite a todos e particularmente ao Francisco que mais uma vez vem lançar um tema interessante para as relações Luso-Brasileiras. Eu próprio já lancei um tema sobre a diferença entre a actual Literatura Brasileira e a do seculo passado (lembra-se Francisco? Ninguem ligou. Nem em Portugal nem no Brasil (houve uma ou duas execepções). Quanto ao outro tema (o Acordo...) a falta de categoria e a baixaria dos participantes foi de tal ordem que só podia acontecer que as pessoas decentes (nas quais me incluo)rapidamente desistiram.
Lamento desiludir a Eugenia mas não existe nenhuma "...invasão maciça de informações via TV".
A não ser que considere que a "informação" contida nas quatro telenovelas que passam na SIC antes do Telejornal e a seguir mais uma supostamente de qualidade que na maior parte das vezes acaba depois da meia-noite. Nos outros dois canais o cenário é igual.
de facto, passam-se dias sem que seja noticiada alguma coisa do Brasil a não ser que aconteça alguma desgraça do tipo do crime de Fortaleza ou um massacre numa cadeia de alta segurança. Aí os Portugueses são "abundantemente" informados sobre um Brasil que de facto existe mas que é uma infíma parte daquilo que verdadeiramente são os milhentos Brasis (peço desculpa pela expressão mas parece-me que corresponde à realidade). Nessa altura, nós os previligiados, que gostamos de passear pelas livrarias de S.Paulo, percorrer lentamente a Rio-Santos (paragem obrigatória em Ilhabela e Paraty), curtir música num qualquer bar de praia ou simplesmente perguiçar na areia, que conhecemos um pouco do Brasil somos confrontados com aquela pergunta estúpida e sacramental "achas que posso ir passar férias sem problemas"?
Mas o Brasil está na moda. A TAP voa 47 vezes semanais para sete destinos diferentes e os aviões vão cheios.
Deixem descrever o percurso do tipico Portuga. Embarque em Lisboa no sabado/Chegada a Natal 8 h depois/Transfer para Pipa /Resort /Ponta do Madeiro de preferencia/ Uma semana a ver os biquinis na praia, muita cerveja e bobó de camarão/volta no sabado seguinte (se tiver dinheiro fica 15 dias).
Comentário para os amigos "é pá o Brasil é muito bom".
Em conclusão o Brasil é ao nível da informação (salvo raras e honrosas excepções) tratado como outro país qualquer (pior que qualquer um da CE).
Muito já foi dito mas espero que não deixem cair o tema porque espaçoes de conversa decente vão rareando.

Um abraço deste lado para ambos os lados.

fernando

Anónimo disse...

Desculpem só ter referido o Francisco e não ter citado o Antonio Viriato que afinal de contas está na genese da discussão

Fernando

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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Roberto Iza Valdés disse...
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