agosto 01, 2005

Rubem revisto. E acrescentado.












Crítica & recensão do Ubiratan Brasil (O Estado de S. Paulo) ao livro de Rubem Fonseca, aqui.

Mais um extracto do livro (publicado pelo Leões de Tolstoi):

«Quando cheguei na Vara Criminal, dona Neide estava sentada num banco na antesala do juiz.
Dona Neide, a senhora se lembra do que combinamos, não lembra? O seu Rosalvo cruzou a rua subitamente...
O nome dele era Raimundo, disse ela, me interrompendo.
O seu Raimundo, continuei, atravessou a rua fora da faixa e surpreendeu a senhora, que usou os freios mas mesmo assim não conseguiu evitar o atropelamento. É isso que a senhora vai dizer ao juiz, está bem? Pouco depois, fomos chamados à presença do juiz. (...) Muito bem, dona Neide, disse o juiz, quero ouvir um relato sucinto dos fatos. Como foi que ocorreu o atropelamento? A senhora já prestou um depoimento na polícia e eu gostaria que a senhora falasse novamente sobre essa ocorrência. (...) A coisa aconteceu assim, seu juiz. Eu estava distraída falando no meu celular, com umavizinha minha que fezoperação da vesícula, uma operação complicada porque ela teve uma crise, cólicas fortíssimas, e foi internada.
Dona Neide, atenha-se aos fatos, alertou o juiz, a senhora estava dirigindo distraída, falando no seu telefone celular e...? O seu Raimundo, coitadinho, apareceu na minha frente, e eu o atropelei, disse dona Neide (...) Abri a boca para falar, mas o juiz fez um gesto com a mão aberta, como dizendo que se eu falasse alguma coisa ele ia me expulsar da sala.
Dona Neide, disse o juiz, na polícia as suas declarações foram diferentes.
Eu fiz o que o doutor Mandrake mandou naquela ocasião, disse dona Neide, mas hoje ele disse para eu falar a verdade, foi um alívio para mim.»

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