agosto 18, 2004

Ruy Castro & Carmen Miranda

Justamente Ruy Castro, o autor das biografias de Nelson Rodrigues e de Garrincha (Estrela Solitária): a próxima biografia é dedicada a Carmen Miranda e sairá na Companhia das Letras durante o próximo ano. Ainda não tem título definitivo – mas Ruy Castro esteve em Marco de Canaveses, a terra-natal de Cármen Miranda. O mais recente livro de Ruy Castro é Amestrando Orgasmos (edição da Objetiva) mas o mais citado é ainda Carnaval no Fogo. Crônica de uma Cidade Excitante Demais, uma história do Rio de Janeiro – e de Copacabana, mais exactamente (Companhia das Letras), que foi um dos finalistas do Jabuti. Um extracto de Carnaval no Fogo: «Se Vespúcio voltasse hoje à cidade, quinhentos anos depois, como seria? Em 1502, ao defrontar-se com o Pão de Açúcar, ele vira na Guanabara algo muito parecido com a ideia que os antigos faziam do Paraíso: um carnaval de montanhas, serras, praias, enseadas, ilhas, dunas, restingas, manguezais, lagoas e florestas, tudo sob um céu que não tinha fim. Uma obra-prima da natureza, habitada por uma gente feliz, bronzeada e amoral. […] Uma vida tão feliz e paradisíaca que deixava muito mal a ideia, então corrente entre os jesuítas, de que os selvagens não tinham alma.» Ruy Castro viveu alguns anos em Portugal e já dedicou ao Rio alguns dos seus livros, como Ela é Carioca, Uma Enciclopédia de Ipanema. Eu acho que o romance sobre Bilac, Bilac vê Estrelas, também é sobre o Rio, claro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem, em 1502 faltavam cerca de 40 anos para ser criada a Companhia de Jesus, por isso não se percebe muito bem como é que já podia haver jesuítas a opinar sobre as almas dos selvagens. E também não se entende porque deviam achar que os selvagens não teriam alma, quando foram a ordem religiosa do seu tempo que mais investiu na missionação no mundo inteiro, Brasil incluído. Uma missionação sem almas para converter não faria grande sentido. Por outro lado, as primeiras descrições idílicas da vida dos índios, como a de Vespúcio, foram meras idealizações renascentistas, que contactos posteriores mais aprofundados vieram desmentir. E sejamos francos: a felicidade na Idade da Pedra é um conto de fadas. Em suma, podia ter-se arranjado uma citação menos infeliz do Ruy Castro. Mas não quero ser (ainda mais) rabujento. Boa sorte com o blogue.

André Murteira