Ivan Nunes, no A Praia:
«Há esta coisa que me faz muita espécie: temos uma língua que, por via de acidentes históricos, é falada por um número incrivelmente maior de pessoas do que aquelas a que a nossa dimensão enquanto país em princípio nos condenaria; e, ainda assim, damo-nos ao luxo de não querer saber do que se faz e escreve em português, de torcer o nariz face ao "sotaque" da escrita brasileira, etc. É como se persistíssemos em querer ser apenas dez milhões, em querer saber apenas do que fazem dez milhões, quando teríamos um acesso muito fácil ao que fazem outros duzentos milhões com a mesma língua. É claro que, inversamente, para mim é também penoso o desconhecimento que os brasileiros em geral têm do que possa ser Portugal hoje, para além do nível da anedota sobre o Joaquim da Padaria. É penoso, sim - não têm a menor ideia, são arrogantes e não querem saber; mas eles sempre têm os números a seu favor.
Nós, pelo nosso lado, temos uma espécie de desdém primeiro-mundista (olha quem) mal assumido, que nos permite olhar para o Brasil e para os brasileiros achando que eles "falam mal", que são atrasados e preguiçosos.»
Sem comentários:
Enviar um comentário