«No Brasil há menos de um ano, aprendi rápido que a abertura ao mundo constitui uma das matrizes deste país, fruto da sua permanente convivência descomplexada com a diferença. A brasilidade fez-se e firmou-se sobre todas as marcas e referências que aqui chegaram, usando-as e transformando-as num magma cultural original, com uma identidade fortíssima, que hoje não precisa de defesas artificiais para se afirmar.
Por tudo isso, foi com alguma surpresa que li o artigo de Miguel Sanches Neto, “Brasil recolonizado”, onde é feita uma aberta apologia do proteccionismo linguístico, do fechamento da fronteira cultural do Brasil à nova literatura portuguesa, tida por poluente veículo de uma estética convencional, apoiada numa norma escrita já decrépita, fechada à sacralização da oralidade. A crer no autor, urge afundar no horizonte, pela crítica profilática, as novas naus de letras que agora trazem por aí Inês Pedrosa, Sousa Tavares, Lídia Jorge, Lobo Antunes, Hélder Macedo, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Francisco José Viegas, Rui Zink e tantos e tantos outros, com o usurpador nobélico Saramago na proa. Por que não se deixa que sejam os leitores brasileiros a usar a sua maturidade para separar o trigo do joio, o que gostam ou não, sem necessitarem de filtros tutelares preventivos?
Faço a justiça de não colocar Sanches Neto nos cultores do despeito atávico pelo que vem da “terrinha”, coisa velha em algumas mentalidades residuais, onde o anti-portuguesismo – essa doença infantil da brasilidade – se mantém recorrente, espreitando pelas esquinas do preconceito, sobrevivendo em algumas vozes e penas, no desespero em tentar fazer do Brasil e de Portugal dois países separados por uma língua comum. Mas é bem triste ver adubada e ajudada essa mesma deriva por figuras da cultura, dando verniz ideológico e intelectual ao preconceito.
Deixo apenas uma nota mais.
Na minha juventude em Portugal, a ditadura não se atrevia a privar-nos de Amado, Guimarães Rosa ou Veríssimo, a afastar-nos da Pasárgada da esperança acenada por Bandeira, que nos ajudava a sonhar longe dos “mortos de sobrecasaca” que nos rondavam os dias. Se alguém hoje ousasse por lá dizer que Nélida Piñon, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro ou o outro Veríssimo afectavam a estética literária caseira teria, como resposta, uma gargalhada do tamanho do Atlântico, ouvida no Além pela velhinha de Taubaté.
Francisco Seixas da Costa, Embaixador de Portugal no Brasil.»
outubro 22, 2005
Neo-colonialismo e literatura.
A Carta Capital, uma boa revista brasileira que começou por ser apenas de economia, publicou um texto de Miguel Sanches Neto com queixinhas sobre os escritores portugueses, intrusos no Brasil, e com uma inabitual lengalenga sobre neo-colonialismo (que o governo português envia hordas de escritores para o Brasil) e nacional-proteccionismo (que o português do Brasil é melhor do que português europeu -- o que tem uma raiz verdadeira, mas dito assim...). Como este blog está à vontade em matéria brasileira e luso-brasileira, acho que o texto era medíocre, invejoso e senil. O embaixador português no Brasil, Francisco Seixas da Costa, achou que o assunto merecia um reparo. Está aqui a sua resposta, na íntegra. Boa diplomacia também é isto: responder quando alguém pergunta alguma coisa.
setembro 22, 2005
setembro 07, 2005
São Francisco de Paula.

Os dois homens estão sentados
frente a frente. Chimarrão, mate,
fumo de cigarro, cavalos rente
a uma cerca de madeira. Um fogo
a meio da madrugada. Um deles
dedilha o violão, o outro recita,
as mãos nos joelhos.
Os dois gaúchos olham a erva rasa,
o risco de luz entre as araucárias.
Há um silvo absurdo no interior
do bosque. Uma guabiroba abateu
depois das chuvas, entre raízes
de caúnas e rastos de animais.
Quando vem o minuano? Preparado
para o vento, um deles ergue-se,
chamado pela escuridão do céu,
responde por todos os nomes da serra,
iluminado pelas brasas do chão.
O outro olha mais além, procurando
os sinais da tempestade.
Viagem a Pelotas
Corpos celestes, ventanias, poeira,
muros em ruínas, sabor de areia.
Lagoas que correm ao longo da estrada
como um mapa cheio de pontos desconhecidos
e luminosos. Uma geografia assim,
sobrevoando a cidade colonial e em ruínas,
os riscos de fumo nas montanhas, a poesia
mais afastada dos perigos, junto do riso,
tudo para que o deserto não se prolongue
e os animais da noite encontrem
os caminhos. Lagos. Insectos esvoaçando,
rios, arroios, aviões sobre o pampa
e sobre as águas da chuva, cidades
adormecendo antes da noite, uma mesa
onde aguardamos o vento, vindo do pátio,
da escuridão mais perto da luz.
muros em ruínas, sabor de areia.
Lagoas que correm ao longo da estrada
como um mapa cheio de pontos desconhecidos
e luminosos. Uma geografia assim,
sobrevoando a cidade colonial e em ruínas,
os riscos de fumo nas montanhas, a poesia
mais afastada dos perigos, junto do riso,
tudo para que o deserto não se prolongue
e os animais da noite encontrem
os caminhos. Lagos. Insectos esvoaçando,
rios, arroios, aviões sobre o pampa
e sobre as águas da chuva, cidades
adormecendo antes da noite, uma mesa
onde aguardamos o vento, vindo do pátio,
da escuridão mais perto da luz.
Tratado de Geografia do Sul

(Cambará do Sul)
Brasil de musgos e sombras, veredas onde
a música não entrou ainda, nem o batuque,
nem outra cor que dê alma aos seus mortos.
Árvores por onde cresce a humidade, o silêncio,
onde passa o voo dos quero-quero vigiando
as fronteiras. Colinas sem inclinação, cavalos
que passam pela chuva transformada em neve
no Brasil das serras. Lã, ponchos, fogos, queimadas,
arvoredos, poemas vindos do nada, madeiras,
trilhas, escadarias, neblinas nos lagos, tisanas
e pimentas, estradas de terra húmida, sotaque
de geada, céu negro em São José dos Ausentes.
Fronteiras, lagoas, gaúchos envoltos na luz
pálida do meio-dia, impressão de glória
ou de deserdados, vida breve de cachoeiras
no vento do sul, caminhos que não se perdem
nunca, desfiladeiros sobre o que há-de ser o pampa,
sobre o que há-de ser a vida inteira, hino da terra,
harpas em campos abertos, animais, observatórios,
planetas vistos entre arvoredos, vento polar arrastado
pelos pássaros, manhãs, tardes, vastas noites, vastas
noites no coração da tempestade, muros de lama,
cidades vazias onde o passado guardou
a arqueologia dos seus nomes. E peregrinos,
perdições, dias escuros, araucárias nos caminhos,
pecados, preces e traições do entardecer,
delicadeza vaga sem uma palavra que a explique,
luar profundo, animais do sul mais ao sul,
língua rara, língua própria, coisas que gelam
à superfície. E cavaleiros na linha do horizonte,
recortados junto de casas abandonadas, luz
descendo sobre os pântanos, poeira, vinhedos.
E uma geografia desfeita, subindo pelas serras,
desconhecida, sem a amargura dos abandonados
e sem a doçura dos que se sentem amados.
São José dos Ausentes.
agosto 18, 2005
A Região Submersa. Agora a negro.

Foi em Portugal que Tabajara Ruas (então no exílio) publicou A Região Submersa pela primeira vez. Agora, a Record incluiu o livro na sua série Negra. Fantástica aventura de Cid Espigão, o detective de Porto Alegre. O livro também está publicado em Portugal pela Ambar,
Tabajara Ruas (1942), gaúcho de Uruguaiana, é escritor, tradutor e autor de guiões para televisão e cinema. Entre 1971 e 1981, Tabajara viveu exilado e morou em diversos países: Chile, Argentina, Dinamarca e Portugal. Actualmente trabalha como publicitário entre Porto Alegre e Florianópolis. Entre os seus livros estão Netto Perde a Sua Alma (Record no Brasil e Ambar em Portugal), O Fascínio (Record no Brasil e Ambar em Portugal), Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez (Record no Brasil e Ambar em Portugal), O Amor de Pedro por João (Record), As Armas e os Varões Assinalados (LPM).
Os artistas da bola. Domingos da Guia.


O fantástico Domingos da Guia biografado por Aidan Hamilton, no livro Divino Mestre (edição da Gryphus). Hamilton, que é jornalista da BBC, já tinha publicado o livro Um Jogo Inteiramente Diferente.
[DOMINGOS DA GUIA Começou jogando no Bangú em 1929. Depois se transferiu para o Nacional de Montevidéu onde conquistou o titulo de campeão uruguaio de 1933. Voltou ao Brasil para jogar no Vasco e foi campeão carioca em 1934. Saiu novamente para vestir a camisa do Boca Junior e outra vez foi campeão argentino de 1935. A próxima camisa foi a do Flamengo. No clube da Gávea foi campeão carioca nos anos de 1939. 1942 e 1943. Já veterano defendeu o Corinthians Paulista e encerrou sua carreira onde começou, no Bangú. Jogava de cabeça erguida, tinha uma perfeita noção de colocação e se destacava pela antecipação nas jogadas. Por seu futebol quase perfeito, tinha o apelido de Divino.
Vestiu a camisa da seleção brasileira em trinta partidas. Disputou vários campeonatos sul-americanos mas nunca foi campeão. Participou da Copa do Mundo de 1938 e ficou em terceiro lugar. Seguindo os passos e a tradição do pai, Ademir da Guia foi um dos mais clássicos e elegantes jogadores do nosso futebol. Domingos da Guia nasceu no dia 19 de novembro de 1912 no Rio de Janeiro, e morreu no dia 18 de maio de 2000.] Ver mais aqui.
Milton Hatoum. Regresso a Manaus.

Novo livro de Milton Hatoum, Cinzas do Norte (edição Companhia das Letras). O regresso a Manaus entre 1950 e 1960.
[Na Manaus dos anos 1950 e 1960, dois meninos travam uma amizade que atravessará toda a vida. De um lado, Olavo, de apelido Lavo, o narrador, menino órfão, criado por dois tios mal-e-mal remediados, que cresce à sombra da família Mattoso; de outro, Raimundo Mattoso, ou Mundo, filho de Alícia, mãe jovem e mercurial, e do aristocrático Trajano.
No centro das ambições de Trajano está a Vila Amazônia, palacete junto a Parintins, sede de uma plantação de juta e pesadelo máximo de Mundo. A fim de realizar suas inclinações artísticas, ou quem sabe para investigar suas angústias mais profundas, o jovem engalfinha-se numa luta contra o pai, a província, a moral dominante e, para culminar, os militares que tomam o poder em 1964 e dão início à vertiginosa destruição de Manaus. Nessa luta que se transforma em fuga rebelde, o rapaz amplia o universo romanesco, que alcança a Berlim e a Londres irrequietas da década de 1970, de onde manda sinais de vida para o amigo Lavo, agora advogado, mas ainda preso à cidade natal.]
Milton Hatoum é autor de Dois Irmãos e de Relatos de um Certo Oriente, ambos publicados pela Companhia das Letras, no Brasil, e pela Livros Cotovia em Portugal. Mais informações sobre Milton aqui.
Prémio Portugal Telecom
O Diário de Notícias de hoje publica uma lista de livros candidatos ao Prémio Portugal Telecom. Trata-se, na verdade, de um conjunto de livros que podem vir a figurar na shortlist final, habitualmente com dez títulos.
agosto 08, 2005
Lista para o Jabuti
1º - Vozes no Deserto
Nelida Pinon - Editora Record
2º - Lorde
João Gilberto Noll - W11 Editores
3º - O Opositor
Luis Fernando Veríssimo - Objetiva Ltda
4º - Maré Nostrum
Salim Miguel - Editora Record
5º - O Vestido
Carlos Herculano Lopes - Geração de Comunicação Integrada Comercial Ltda
6º - Guerra em Surdina
Boris Schnaiderman - Cosac e Naify Edições Ltda
7º - O País dos Ponteiros Desencontrados
Flávio Moreira da Costa - Agir Editora Ltda
8º - Santo Reis da Luz Divina
Marco Aurélio Cremasco - Editora Record
9º - Francisco Félix de Souza
Alberto da Costa Silva - Nova Fronteira
10º - O Fotógrafo
Cristóvão Tezza - Editora Rocco
Nelida Pinon - Editora Record
2º - Lorde
João Gilberto Noll - W11 Editores
3º - O Opositor
Luis Fernando Veríssimo - Objetiva Ltda
4º - Maré Nostrum
Salim Miguel - Editora Record
5º - O Vestido
Carlos Herculano Lopes - Geração de Comunicação Integrada Comercial Ltda
6º - Guerra em Surdina
Boris Schnaiderman - Cosac e Naify Edições Ltda
7º - O País dos Ponteiros Desencontrados
Flávio Moreira da Costa - Agir Editora Ltda
8º - Santo Reis da Luz Divina
Marco Aurélio Cremasco - Editora Record
9º - Francisco Félix de Souza
Alberto da Costa Silva - Nova Fronteira
10º - O Fotógrafo
Cristóvão Tezza - Editora Rocco
agosto 05, 2005
agosto 01, 2005
Verissimo a pedido.
Leitores do Gávea querem um cheirinho do livro de Verissimo citado aí mais em baixo. O começo:
«Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão. Como todos os homens, soi oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes de superfície, que pouco significam mas alimentam. Você talvez tenha visto alguns dos meus livros nas bancas. São aqueles livros mal impressos em papel de jornal, com capas coloridas em que uma mulher com grandes peitos de fora está sempre prestes a sofrer uma desgraça. Escrevo um livro por mês, com vários pseudônimos americanos, embora meu herói -- não sei se você notou -- sempre se chame Conrad. Conrad James. Herman Conrad. Um ex-marinheiro de poucas palavras. Um peixe pequeno, mas mais de uma cidade foi salva da catástrofe pela sua ação decisiva entre as páginas 90 e 95. Tenho uma fórmula: a grande trepada por volta da página 40, o encontro final com o vilão, e o desenlace a partir da página 90. Sobrevivo. Nunca mais vi o mar. Pensando bem, não saí mais de casa desde o meu acidente. Perdi o pé. Não quero falar disso. Tem uma mulher, Maria, claro, que vem cozinhar para mim e sempre chega com notícias da decomposição da sua família. "Minha mãe tá com a urina preta", justo quando eu estou tomando café. Tem uma moça que vem duas vezes por semana fazer a faxina mas sempre acaba na minha cama. Há dois anos que ela vem, Lília, Lília e ainda não espanou um livro. É assim que eu vivo. Exile and cunnilingus. Mas não era isso que eu queria contar.»
O Jardim do Diabo, recordo, foi o primeiro romance de L.F. Verissimo, publicado em 1988, e esta edição da Objetiva apresenta o texto revisto pelo próprio.
«Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão. Como todos os homens, soi oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes de superfície, que pouco significam mas alimentam. Você talvez tenha visto alguns dos meus livros nas bancas. São aqueles livros mal impressos em papel de jornal, com capas coloridas em que uma mulher com grandes peitos de fora está sempre prestes a sofrer uma desgraça. Escrevo um livro por mês, com vários pseudônimos americanos, embora meu herói -- não sei se você notou -- sempre se chame Conrad. Conrad James. Herman Conrad. Um ex-marinheiro de poucas palavras. Um peixe pequeno, mas mais de uma cidade foi salva da catástrofe pela sua ação decisiva entre as páginas 90 e 95. Tenho uma fórmula: a grande trepada por volta da página 40, o encontro final com o vilão, e o desenlace a partir da página 90. Sobrevivo. Nunca mais vi o mar. Pensando bem, não saí mais de casa desde o meu acidente. Perdi o pé. Não quero falar disso. Tem uma mulher, Maria, claro, que vem cozinhar para mim e sempre chega com notícias da decomposição da sua família. "Minha mãe tá com a urina preta", justo quando eu estou tomando café. Tem uma moça que vem duas vezes por semana fazer a faxina mas sempre acaba na minha cama. Há dois anos que ela vem, Lília, Lília e ainda não espanou um livro. É assim que eu vivo. Exile and cunnilingus. Mas não era isso que eu queria contar.»
O Jardim do Diabo, recordo, foi o primeiro romance de L.F. Verissimo, publicado em 1988, e esta edição da Objetiva apresenta o texto revisto pelo próprio.
Rubem revisto. E acrescentado.

Crítica & recensão do Ubiratan Brasil (O Estado de S. Paulo) ao livro de Rubem Fonseca, aqui.
Mais um extracto do livro (publicado pelo Leões de Tolstoi):
«Quando cheguei na Vara Criminal, dona Neide estava sentada num banco na antesala do juiz.
Dona Neide, a senhora se lembra do que combinamos, não lembra? O seu Rosalvo cruzou a rua subitamente...
O nome dele era Raimundo, disse ela, me interrompendo.
O seu Raimundo, continuei, atravessou a rua fora da faixa e surpreendeu a senhora, que usou os freios mas mesmo assim não conseguiu evitar o atropelamento. É isso que a senhora vai dizer ao juiz, está bem? Pouco depois, fomos chamados à presença do juiz. (...) Muito bem, dona Neide, disse o juiz, quero ouvir um relato sucinto dos fatos. Como foi que ocorreu o atropelamento? A senhora já prestou um depoimento na polícia e eu gostaria que a senhora falasse novamente sobre essa ocorrência. (...) A coisa aconteceu assim, seu juiz. Eu estava distraída falando no meu celular, com umavizinha minha que fezoperação da vesícula, uma operação complicada porque ela teve uma crise, cólicas fortíssimas, e foi internada.
Dona Neide, atenha-se aos fatos, alertou o juiz, a senhora estava dirigindo distraída, falando no seu telefone celular e...? O seu Raimundo, coitadinho, apareceu na minha frente, e eu o atropelei, disse dona Neide (...) Abri a boca para falar, mas o juiz fez um gesto com a mão aberta, como dizendo que se eu falasse alguma coisa ele ia me expulsar da sala.
Dona Neide, disse o juiz, na polícia as suas declarações foram diferentes.
Eu fiz o que o doutor Mandrake mandou naquela ocasião, disse dona Neide, mas hoje ele disse para eu falar a verdade, foi um alívio para mim.»
julho 30, 2005
Joel Silveira, e «O Inverno da Guerra»

Joel Silveira – 86 anos e mais de 60 de profissão – é considerado o repórter que mudou o jornalismo brasileiro. Foi correspondente de guerra, colunista, editor. Tem vários livros publicados como: Viagem com o presidente eleito, A camisa do Senador, A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista, A Feijoada que Derrubou o Governo e o Diário do Último Dinossauro. O Gávea já o incluiu entre os seus autores.
A Objetiva acaba de lançar O Inverno da Guerra, reportagens de Joel Silveira durante a II Guerra, quando partiu para a Europa ao serviço da cadeia de jornais de Assis Chateaubriand, os Diários Associados, acompanhando o contingente brasileiro «até à rendição alemã».
Reedição de Verissimo
O primeiro romance de Verissimo, um thriller bem-humorado, O Jardim do Diabo (Editora Objetiva) acaba de ser publicado e inteiramente revisto pelo autor. Conta a história do assassinato de uma mulher que envolve Estevão, autor de romances policiais. A primeira frase é fabulosa. Mais ou menos isto: «Tratem-me por Ismael e eu não respondo; meu nome é Estevão.» A Objetiva também lançou uma versão das tiras de Aventuras da Família Brasil.
Novo Rubem Fonseca. Morram de inveja!
O novo romance de Rubem Fonseca leva o título A Bíblia e a Bengala (Companhia das Letras) e vai entrar em distribuição em breve. Assunto do novo livro: o roubo de um dos raros exemplares da Bíblia de Mogúncia, de Gutenberg, e o desaparecimento de uma assassina bengala Swaine. Para amantes de Rubem, no entanto, há um pormenor essencial a ter em conta: o personagem principal é o investigador e advogado criminalista Mandrake, o mesmo de A Grande Arte, a obra-prima de Rubem, prémio Camões de 2003.
Extractos do livro:
«Você me disse que não se envolvia com mulheres casadas e você e ela estavam fodendo, o marido deve ter descoberto e você matou o infeliz, você é um assassino, um mentiroso, um canalha que se finge de bonzinho, pensa que eu não sei por que fodia comigo? Para fazer uma boa ação, para se redimir dos seus pecados, eu, o doutor Mandrake, sou bonzinho, estou fodendo a aleijadinha, eu vou para o céu. Você vai é para o inferno, seu filho-da-puta. Helena arrancou os sapatos e andou pela sala, mancando. Está vendo a aleijadinha que tem uma perna mais curta que a outra, que você, para conseguir foder, tomava Viagra escondido ou outra merda dessas, olha para mim, seu pulha, olha para a aleijadinha.»
«Meu pai passava o dia e a noite acordado, quando ia para a cama ficava lendo e eu lhe pedia que parasse de ler, apaga a luz de cabeceira e vamos dormir, eu dizia, e ele respondia que não queria dormir e quando não estava lendo ficava de olhos abertos olhando para o teto ou para a janela. Fecha os olhos, eu pedia. Não fecho, não posso fechar os olhos, se fechar os olhos eu morro. A luz da cabeceira permanecia acesa, eu acordava no meio da noite, do meu sono agitado, e lá estava ele, de olhos abertos, olhando para o teto. Um dia notei que ele estava de olhos fechados e pensei, aliviado, afinal ele dormiu, e apaguei a luz da cabeceira. Quando acordei, pela manhã, ele estava morto.»
A Grande Arte, de Rubem Fonseca, foi publicado pela Companhia das Letras no Brasil; há uma edição portuguesa publicada em 1987 pelas Edições 70.
Porto Alegre, São Paulo, Recife
Um dos habituais comentadores do Gávea escreveu a propósito dos posts sobre tertúlias em Poerto Alegre e São Paulo, chamando a atenção para o Recife:
«Como disse, Porto Alegre é de facto a metrópole mais européia do Brasil. Convivem descendentes de alemães, de italianos e, sobretudo, de açorianos. Há, também, um imenso bairro da diáspora ashkenazi. Recife, quase 4.000 km na direção nordeste, é também um encontro de gentes de diferentes origens: portuguesa, africana e autóctone. Em Porto Alegre há uma saudável competição entre as culturas que integram a cidade. Já Recife, no que toca à civilização, é quase exclusivamente portuguesa. O rosto de Porto Alegre é europeu e o de Recife mestiço, moreno. Em ambas as metrópoles, ainda que por diferentes razões, os portugueses encontrarão muitas afinidades. Já São Paulo seria a única capital de vocação autenticamente "americana", a representar mais um aspecto dos diferentes Brasis...»
Ficamos à espera de indicações sobre tertúlias pernambucanas.
«Como disse, Porto Alegre é de facto a metrópole mais européia do Brasil. Convivem descendentes de alemães, de italianos e, sobretudo, de açorianos. Há, também, um imenso bairro da diáspora ashkenazi. Recife, quase 4.000 km na direção nordeste, é também um encontro de gentes de diferentes origens: portuguesa, africana e autóctone. Em Porto Alegre há uma saudável competição entre as culturas que integram a cidade. Já Recife, no que toca à civilização, é quase exclusivamente portuguesa. O rosto de Porto Alegre é europeu e o de Recife mestiço, moreno. Em ambas as metrópoles, ainda que por diferentes razões, os portugueses encontrarão muitas afinidades. Já São Paulo seria a única capital de vocação autenticamente "americana", a representar mais um aspecto dos diferentes Brasis...»
Ficamos à espera de indicações sobre tertúlias pernambucanas.
Curso Breve de Literatura Brasileira

Para mostrar apenas a capa do primeiro volume da colecção, Curso Breve de Literatura Brasileira, da Cotovia, o Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado. Abel é, de facto, o grande divulgador da literatura brasileira em Portugal, um dos autores do melhor blog português do momento, o Casmurro, onde colaboram também Osvaldo Silvestre, Manuel Portela, Pedro Serra ou Gustavo Rubim.
Abel Barros Baptista é autor de, entre outros, O Professor e o Cemitério. Rusga pelo «José Matias» de Eça de Queiroz Entendido como Percurso de Assassinatos Regulares, 1986; Auto Bibliografias. Solicitação do Livro na Ficção e na Ficção de Machado de Assis, 1998; A Infelicidade pela Bibliografia, 2001. Director-adjunto da revista Colóquio/Letras, Abel escreve em jornais e revistas de Portugal e do Brasil e é co-autor, com Luísa Costa Gomes, do romance O Defunto Elegante (Lisboa, 1996) e, com Gustavo Rubim, de Importa-se de me emprestar o Barroco?. O seu mais recente livro de ensaios é Coligação de Avulsos. Ensaios de Crítica Literária (na Cotovia).
Subscrever:
Mensagens (Atom)