dezembro 06, 2013

Mensagem

Renata: continua o Gávea!

julho 19, 2009

Eufrásia, uma personagem














Os Mundos de Eufrásia, de Claúdia Lage: olha, atenção a este livro! Publicado pela Record, o essencial é isto: «Praticamente desconhecida na historiografia nacional, Eufrásia Teixeira Leite foi uma das mais incríveis personagens brasileiras do fim do século XIX, uma bela filha da elite cafeeira da região de Vassouras que viveu na Europa e circulou pelos mais importantes salões de Paris. Em um tempo em que as mulheres viviam à sombra do marido e as famílias ainda pagavam dote para casar suas moças, Eufrásia não se casou, viveu durante anos uma impossível e conturbada história de amor com o abolicionista Joaquim Nabuco, ergueu um império financeiro e se tornou uma das mais respeitadas investidoras do mundo à época.» O lançamento é dia 22, na Argumentum, a mais bela das livrarias do Leblon, bem perto da casa desta senhora.

Ruy volta








O Leitor Apaixonado: é este o título do novo livro de Ruy Castro a publicar pela Companhia das Letras. Textos sobre autores de que, pura & simplesmente, Ruy Castro gosta. Sai no fim do mês, no Brasil.

6° Prémio Passo Fundo Zaffari Bourbon de Literatura

Entre os finalistas estão Milton Hatoum, Moacyr Scliar, António Lobo Antunes, Lídia Jorge, Francisco José Viegas, João Gilberto Noll, Chico Buarque, Salim Miguel ou Ruy Castro. Há 48 finalistas que continuam na disputa pelos R$ 100 mil.

Mais Manuel Bandeira

















Sai na Cosac & Naify o segundo volume das Crônicas Inéditas de Manuel Bandeira. São textos em prosa que Manuel Bandeira publicou na imprensa entre 1930 e 1944 e não foram incluídos por ele nas Crônicas da Província do Brasil (1937). Organização, posfácio e notas de Júlio Castañon Guimarães.

Mia com outro título












O livro Jesusalém, do moçambicano Mia Couto, sai na Companhia das Letras com o título Antes de Nascer o Mundo.

Rumores menos bons

Rumores vindos do Rio: dificuldades cercam a Ediouro, que planeia, entre outras coisas, a mudança e concentração de instalações para as várias empresas do grupo, como a Agir e a Nova Fronteira.

O regresso

Ano e meio depois, o Gávea regressa à vida; hibernou durante este tempo. Faço-o porque gosto cada vez mais de literatura brasileira, de livros brasileiros e, pasme-se, até de muitos autores brasileiros. O Gávea continuará a ser uma espécie de apontador da edição brasileira para quem não tem tempo de andar todo o tempo a ver o que sai e o que vai sair.

novembro 06, 2007

Eucanaã no cinema












Eucanaã Ferraz publica muito em breve o seu novo livro de poemas, com o título Cinemateca, edição Companhia das Letras. Poemas narrativos, como filmes.

Ouro Preto, 7

A cobertura do Fórum das Letras de Ouro Preto foi originalmente publicada no outro blog, ou seja, no Origem das Espécies.

Ouro Preto, 6









1. Muito trabalho nos últimos dois dias e a actualização fica para trás; a actualização e os posts prometidos no último, mais abaixo. Mas houve novidades interessantes. A primeira foi a mesa onde participaram Miguel Gullander, Ondjaki e Patrícia Reis às 14h30. O tema: «Caminhos da experimentação na nova literatura lusófona».
Às 17h00, participei na minha mesa, com Marçal Aquino, Tony Bellotto e
Newton Cannito. Marçal acabou por ser o moderador mas, a meio, Malu Mader exigiu -- em nome de todos nós -- que ele participasse mais activamente. O tema: o romance policial. Será objecto de outro texto, um dia destes.
Fica a imagem da sessão de autógrafos a seguir ao debate.










[Eu, Tony Bellotto e Marçal Aquino]
Coisas que vale a pena saber: Tony (o Flamengo tinha acabado de perder 3-1 com o Cruzeiro) anda em digressão com a sua banda, Titãs, e fazem duo com Os Paralamas do Sucesso. Sairá um disco. Em 2008, ele irá a Portugal. Marçal Aquino também. Quem puder, veja o seu filme O Invasor.

2. Há uma razão para não trazer mais informações sobre a mesa de Ondjaki, Gullander e Patrícia Reis, além de ter sido logo antes daquela em que participei. Ontem a jornada começou pelas oito, para preparar a segunda parte da apresentação dos roteiros/guiões de cinema realizados no âmbito do Cineport.








Primeiro do dia: o de Ana Paula Maia (Brasil), A Guerra dos Bastardos, com roteiro de Pilar Fazito. Uma história muito, muito bem contada, a le
mbrar Almodovar, meio trágico, meio grotesco; um retrato brasileiro muito aplaudido.








Depois
, o de Ondjaki (Angola), Bom Dia, Camaradas, roteiro de João Toledo: excelentes momentos de comoção e de humor numa recordação da infância luandense vivida debaixo da guerra. O texto de Ondjaki favorece muito este género de adaptação, em que a voz off não soa mal, e os quadros mais «sentimentais» não são desperdício. Pelo contrário.

O trabalho de Joana Oliveira com Longe de Manaus deixou-me comovido: o livro fica no osso, certamente, mas a vida dos livros em guião de cinema é assim. Todo o guião é construído em redor da figura de Jaime Ramos, o detective, explorando os momentos de humor e desconcerto, os seus tiques, elegendo-o como tipo fundamental e mantendo três pólos de acção: Porto, São Paulo e Manaus, com Luanda na penumbra. Gostei bastante e o trabalho final com Marçal Aquino foi excelente.
Fica, naturalmente, a perplexidade de ver como
os outros, no Brasil, entenderam a figura de Jaime Ramos; nesse ponto fiquei ainda mais comovido durante a sessão da tarde, quando ouvi as observações de leitores sobre o inspector portuense. Já não é meu. Mas ver que os outros o reconstroem é também muito bom.









[Guiomar Grammont]

3. Em conversa com Guiomar Grammont (a organizadora do Fórum) Malu, Tony Bellotto e Eucanaã Ferraz, nasceu a ideia de imaginar um conjunto de histórias policiais passadas em Ouro Preto. Uma ideia a seguir.

















[Falke, eleito o melhor chopp artesanal da temporada, nascido em BH,
servido em abundância no restaurante Bené da Flauta; Inês Pedrosa e Connie Lopes, a editora da Língua Geral; os cheques-refeição providenciados pela organização e que são aceites nos restaurantes de Ouro Preto -- carinhosamente, são conhecidos por «Grammonts»; Connie Lopes e Miguel Gullander; os livreiros acompanham estes eventos no Brasil: o grande animador e responsável pela Livraria da Travessa; José Miguel Wisnik esteve no Fórum e fez um dos seus shows-aulas, «Nas Palavras das Canções», dedicando uma das canções a Inês Pedrosa -- se puderem ouvi-lo, não percam, é poesia pura.]

4. Amanhã seguem mais instantâneos. Mas pode fazer-se o anúncio: em Abril, de 10 a 13, o Fórum das Letras de Ouro Preto muda-se para Lisboa. O Fórum das Letras de Lisboa está já a ser preparado por Guiomar Grammont e Inês Pedrosa.

Ouro Preto, 5










1. Manhã agitada e cheia de trabalho, sempre em bom ritmo. Primeira nota para a leitura e apresentação de roteiros/guiões de adaptações cinematográficas feita no âmbito do Laboratório de Roteirismo do Cineport, Festival de Cinema de Língua Portuguesa (na foto, o grupo de roteiristas, com Newton Cannito, o segundo na imagem), e que começou em Abril passado, em João Pessoa. Esta manhã, apresentação do roteiro do romance Perdido de Volta (Angola, Portugal), de Miguel Gullander, um trabalho muito bom de Ricardo Andrade. Um grupo de actores representou um fragmento do roteiro, muito David Lynch, um nadinha de David Cronenberg.








[Miguel Gullander, José Eduardo Agualusa e Christiane Tassis]

Depois, com roteiro de Sílvia Godinho, foi a vez de As Mulheres de Meu Pai (Angola), de José Eduardo Agualusa; vimos uma espécie de diaporama do road-movie, no mínimo comovente, com música fantástica de um quarteto de cordas do Soweto. É preciso notar queAs Mulheres de Meu Pai é, em si mesmo, um road-movie sobre a viagem de Laurentina em busca do seu pai africano e das suas mulheres, numa viagem que nos leva de Angola até à Ilha de Moçambique. Para quem não leu o livro, pode abrir o apetite com a pré-publicação do Capítulo 1, Parte I , Capítulo 1, Parte II , Capítulo 2, Parte I. Pode ainda ouvir a entrevista de José Eduardo Agualusa no Escrita em Dia (versão em wma, em mp3 ou em realplayer.) Como bónus, pelo meio há três curiosíssimas canções do soul angolano dos anos setenta: «Chofer de Praça», de Luiz Visconde, «Kiá Lumingo», de Urbano de Castro, e «Mona ku Jimbe Manheno», de David Zé.
Finalmente, a adaptação de Sob a Neblina, de Christianne Tassis (Brasil), por Marcus Nascimento. Vimos um diaporama muito Alain Resnais, que enquadrava perfeitamente a história do livro: um fotógrafo (Henrique) que pede a uma ex-namorada (Lúcia), jornalista, que escreva a sua biografia, uma vez que pode morrer a qualquer momento, vítima de um tumor. Amanhã continua a sessão, com mais três roteiros.

2. Televisões e entrevistas, aqui e ali. Notícias que saem nos jornais. Os autores portugueses e africanos presentes são bem destacados. Ontem, um fotógrafo convocou-nos para a Igreja do Rosário ao meio-dia, para um fotografia colectiva a ser publicada na primeira página do «Segundo Caderno» (o de letras & artes) do Estado de Minas. Ouvi a convocatória (sabem o que, à meia-noite e meia, significa voz empastelada, lenta, atrapalhada, numa terra onde se bebe um dos melhores chopes artesanais do Brasil, além das cachacinhas Germana e Salinas?) e comentei para o moçambicano Nelson Saúte: «Vais ver que ele não aparece.» E não. Foi visto há pouquinho, às cinco da tarde.









[Nelson Saúte e Eduardo Coelho]
3. O prefeito de Ouro Preto foi já secretário de Cultura do governo estadual de Minas Gerais, em BH. Tem vantagens inegáveis (fala escorreito, é sucinto e activo, simpático e conhece bons vinhos). Durante o jantar de ontem, leu um poema de Nelson Saúte sobre Ouro Preto, justamente.










4.
Na foto anterior Nelson (que lança aqui, por estes dias, Rio dos Bons Sinais) está ao lado de Eduardo Coelho, e isso merece explicação. Eduardo é o editor principal na editora Língua Geral e, se não estou em erro, um dos melhores editores no mundo da língua portuguesa. Significa isso que livro editado por ele é livro sem gralhas
, distracções ou falhas de maior, salvo as que são atribuídas ao autor. É muito cuidadoso, metódico e muito exigente; mas também é um homem divertido, bom de copo, bom de garfo, bom de ler (está a concluir uma tese sobre Manuel Bandeira), bom amigo. A Língua Geral publicou a versão brasileira do meu romance Lourenço Marques com o título A Luz do Índico, e posso dizer que beneficiou bastante o livro. Sem peneiras.










4.
Terminou há instantes a prim
eira mesa da tarde, que juntou José Luís Peixoto, Eucanaã Ferraz e um poeta de BH que vestia calças às riscas e que declarou estar em «transe erótico». Brilhante como sempre, Eucanaã; comovendo a assistência, Peixoto. Poesia às três da tarde com temperatura senegalesa parece absurdo, e é; mas os livros ficam.

5. História de almoço, brejeira e divertida, com Eucanaã e Eduardo Jardim, professor de literatura e filosofia, autor de vários livros sobre o modernismo brasileiro: quando Derrida veio ao Brasil, alguém queria colocar perguntas chocantes ao filósofo francês, digamos que perfeitamente desconstrucionistas. Do género: «O que pensa sobre a nossa mulher brasileira?
Qual é seu time de futebol? Já provou tutu de feijão?» Bom, a verdade é que isso aconteceu, mas com a apresentadora de futebol, Hebe Camargo, a quem coube entrevistar Jean Genet, imagine-se. E lá saiu a pergunta fatal: «O que pensa da mulher brasileira?» Genet balbuciou que não estava interessado. «Que gracinha», riu Hebe Camargo.
Pois isso é o que apetece fazer em certos debates sobre poesia, perguntando aos «poetas em transe»: «O que pensa de usar calças às riscas? Você é do Cruzeiro ou do Atlético Mineiro? Qual a sua opinião sobre o tucunaré?»








6. O angolano Ondjaki, que vem lançar no Brasil (edição Língua Geral)
Os da Minha Rua, anda em pesquisas por Ouro Preto. Barroco brasileiro, arquitectura, gastronomia, música? Não. Ondjaki anda a investigar chapéus. Chapéus. Depois dou notícias sobre o assunto. Chapéus.








[Ana Paula Maia, autora de A Guerra dos Bastardos, e Patrícia Reis]

7. Patrícia Reis lançará agora Morder o Coração no Brasil, antes de entregar o seu novo romance O Silêncio de Deus à Dom Quixote (quanto a este, já li, e é bom, uma história comovente que vale a pena reter). Foi sua uma das frases que marcou os debates: «Quando uma mulher escreve uma história de amor, diz-se que é uma história de mulherzinhas, cheia de corações e tal; quando é um homem, diz-se logo que é uma meditação sobre a condição humana.»

8. Chove em Ouro Preto. Finalmente, para felicidade de todos. Daqui a pouco, às 19h00, a francesa Laure Adler (cuja obra está a ser publicada pela Record) e o carioca Eduardo Jardim irão debater «O ensaio com recursos ficcionais». Mas a novidade é esta pouca chuva, que veio amenizar o clima e temperar as cores das árvores do outro lado da rua.

9. Próximo post com agenda: Elizabeth Bishop em Ouro Preto, Cláudio Manuel da Costa e Gonzaga em Vila Rica, Roberto Carlos, os debates sobre poesia e a música do Soweto String Quartet.

Ouro Preto, 4









1.
Zuenir Ventura, com os seus 76 anos, ao subir ao palco do Fórum (onde ia para o debate sobre «Ficção, História, Jornalismo», com Ricardo Kotscho e Rui Tavares), para Liliane Dutra (como ele, mineira e carioca, ou mineiroca): «Lily, me chama de gostoso

2. Adriano Jordão (adido cultural da embaixada portuguesa em Brasília e, portanto, representante do Instituto Camões) indisposto e com ida ao hospital antes do jantar que ofereceu a escritores portugueses e africanos. Mas cavalheiro e excelente anfitrião, como sempre, saiu do hospital e da farmácia mas passou pelo restaurante Janela do Rosário (mesmo em frente dessa apoteose do barroco de Ouro Preto, que é a igreja de N.S. do Rosário), para tomar um chá de cidreira e dizer duas palavras a todos. De qualquer maneira, que pena Francisco Seixas da Costa não poder estar.

3. Sérgio Sant'Anna, o autor de O Voo da Madrugada (que ganhou o prémio Portugal Telecom no Brasil, edição portuguesa na Cotovia), é o mais desportivo de todos. A meio da manhã desce a Rua Direita, de bermuda e camiseta; fazem-se apostas para saber que jornal ele vai comprar: um diário generalista ou o Lance!, para não perder o contacto com o futebol.
Sérgio, 66 anos, também autor de Um Crime Delicado (prémio Jabuti), de O Concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (também prémio Jabuti) ou de Simulacros, foi uma das minhas grandes surpresas há três anos, quando o conheci. Cheguei a sua casa no Rio, para entrevistá-lo. Eram onze da manhã; ele recebe-me como um carioca legítimo: calção, havaiana e camiseta. Eu tinha acabado de ler O Voo da Madrugada e esperava um homem feito à semelhança dos seus textos, angustiados, densos, cheios de tensão e de negrume. Mas Sérgio estava preocupado com a duração da entrevista; é que, durante a tarde, ele queria ficar sentado na sala, rodeado de cerveja e salgadinhos, a ver os três jogos do Euro 2004. Fizemos a entrevista rapidinho; depois, discutimos o futebol de Scolari e a delícia que era ver jogar a Holanda ou a Croácia. Sim, a entrevista correu maravilhosamente, enquanto na cozinha alguém preparava os salgadinhos.







4.
José Luís Peixoto (foto tirada num aeroporto, recentemente) actua hoje às 14h30, com Eucanaã Ferraz, para falar de poesia «entre o sonho e a matemática». Hoje, é o único português a subir ao palco do Fórum; de manhã, daqui a pouco, às 09h00, apresentação dos roteiros/guiões de livros para adaptação ao cinema: As Mulheres de Meu Pai (Angola), de José Eduardo Agualusa; Perdido de Volta (Angola, Portugal), de Miguel Gullander; A Guerra dos Bastardos (Brasil), de Ana Paula Maia; e Longe de Manaus (Portugal). Quanto a Longe de Manaus, Marçal Aquino gostou da adaptação, o que é uma garantia. Vou ver, em cena, o trabalho de Joana Oliveira.

Ouro Preto, 3










1. Ainda há instantes, José Eduardo Agualusa e Cristóvão Tezza no debate sobre «A alma exposta: literatura, entrega, confissão». Tezza é autor de O Filho Eterno (edição Record), o seu mais recente romance, que acabei de ler: uma história comovente e autobiográfica sobre um casal que tem um filho com síndrome de Down.

2. Joana Oliveira está «ali» reunida com Marçal Aquino, dando os últimos retoques na primeira proposta do guião/roteiro cinematográfico de Longe de Manaus. Ao longo de seis meses, depois de uma primeira sessão no Cineport de João Pessoa, Joana trabalhou o romance com a supervisão de Newton Cannito. A «primeira apresentação final» do guião é amanhã, pelas 9h00.

Aqui, entrevista ao Estado de São Paulo sobre a edição brasileira de Longe de Manaus.

3. Hoje de manhã, às 10h00, justamente, pudemos rever O Mistério da Estrada de Sintra, de Jorge Paixão da Costa, com o guião de Newton Cannito. Sala de madrugadores (o Cine Teatro Villa Rica é uma sala à antiga) e aplausos no fim.







4. Miguel Gullander é o autor de Balada do Marinheiro-de-Estrada (edição Cavalo de Ferro, em Portugal) e, agora, de Perdido de Volta (edição Língua Geral, no Brasil). Ele é filho de mãe sueca e de pai português (em vez de luso-sueco gostamos de tratá-lo como escandaluso), mas viveu sobretudo em Cabo Verde e Moçambique e, agora, desde há mais de um ano, em Benguela, Angola. É o nosso autor heavy metal; aqui, na Praça Tiradentes, no centro de Ouro Preto.

5. Agualusa queixa-se de ter sido acordado por um galo madrugador, ainda mais madrugador do que ele, que acorda pelas seis da manhã. Eu acordei com sinos, sinos, sinos. É o Dia de Finados em Ouro Preto e os primeiros sinos tocaram às seis e meia.












6. A melhor das surpresas pessoais foi o encontro com Tony Belloto, o autor de Bellini e a Esfinge, Bellini e o Demônio e de Bellini e os Espíritos (que estou a ler agora, juntamente com Cabeça a Prêmio, de Marçal Aquino), todos publicados pela Companhia das Letras. Na verdade, eu já gostava de Belloto há muito, pois ele é guitarrista dos Titãs, uma das bandas de que mais gostei (sim, pop-rock, seja o que for), e casado com Malu Mader, que é muito mais divertida do que nos papéis que interpreta. Tony é um excelente escritor também, e um criador de boas histórias policiais com o detective Remo Bellini, da Agência Lobo de Detetives. Ontem, boa conversa e a hipótese de edição dos seus livros em Portugal. Domingo, participarei com ele e com Marçal Aquino no debate sobre literatura policial, moderado pelo Newton Cannito.

7. Em Longe de Manaus uso uma canção dos Titãs, quando Daniela e Helena se encontram em São Paulo: «Eu preciso de você agora, por favor não vá embora, o tempo vai passando nos relógios, encontro seus beijos a toda hora.» É «Toda a Cor», a canção. Eu ouvi-a muito em 2004. Nessa altura escrevi A Noite o que é?.

8. Marçal é o autor de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (edição portuguesa A Palavra, e brasileira na Companhia das Letras). Outros livros a não perder são Famílias Terrivelmente Felizes e O Amor e Outros Objetos Pontiagudos. Mas repare-se neste arranque de Cabeça a Prêmio (edição Cosac & Naify): «As coisas importantes ditas de um jeito prosaico. Brito estaa experimentando uma camisa no provador de uma butique masculina. Sempre pedia que Marlene escolhesse as roupas para ele. O rosto dela, só o rosto, surgiu entre as cortinas e ficou assistindo. Eles se olharam pelo espelho do provador. Me diga uma coisa, Brito: você é feliz? Ou infeliz? Ele colocou a camisa por dentro da calça. Viu que começava a criar barriga. As duas coisas, acho. Marlene degustou a resposta por um tempo. Daí, sorriu e disse, antes de seu rosto sumir entre as cortinas: Ficou boa a camisa. Brito e Marlene. Por que dava certo?»

9. Todas as tardes Luis Fernando Verissimo faz o mesmo passeio, junto da Praça Tiradentes. Como é que o mais bem-humorado dos escritores brasileiros raramente fala e raramente ri? É esse o segredo, precisamente. Conta-se que numa viagem de comboio até Cruz Alta, no planalto gaúcho, o pai, Érico Verissimo, lhe fez uma pergunta banal à saída de Porto Alegre. Ele teria respondido em Cruz Alta, horas depois.

10. Em Abril passado, em Salvador, Zuenir Ventura contou-me da sua nova reportagem, uma coisa totalmente inesperada: está a escrever sobre o funk carioca. Passou meses nas noites de funk, entre gangues. O livro vai sair. Mas em Abril de 2008 vai sair uma caixinha com a reedição de 1968, o Ano que Não Terminou, juntamente com um outro livrinho em que se fala do que se perdeu e não se perdeu dessa época. Sou de outra época, mas o entusiasmo de Zuenir é contagiante.

Ouro Preto, 2








1. «O Verissimo já falou?» «Já. A conferência dele era às duas e meia.» «Não, não é esse. O Luis Fernando Verissimo, falo desse Verissimo.» «Já, já falou. Era às duas e meia.» «Você está chato hoje, hein? Eu estou falando do Luis Fernando Verissimo, pô.»

2. «Que debate era esse?» «Sobre literatura e já não sei bem, causas e o papel do escritor.» «Estou sabendo.» «Tu não foste?» «Estive bebendo, depois estive ocupado a ficar sóbrio, depois bebi uma cachacinha, uma Germana, e já passou, e agora estou preparado. Qual é o próximo debate?» «Hoje já não tem mais.» «Vai ser um combate.»

2. «É na Xavier da Veiga, de certeza que é na Xavier da Veiga. Descendo para aquela igreja, você está vendo?» «Não.» «Pô, mas você vai pelo cheiro. Tem aquela rua que vai dar ao centro, sabe?, aí volta à direita, desce, é a Xavier da Veiga, tem lá a cachaçaria. Um baita arquivo de cachaça, se quer saber.» [silêncio] «Já sei, mas não tem cachaçaria nenhuma lá.» «Não?» «Não. Lá é a biblioteca.» «Eu confundo tudo. Deixa.»

Ouro Preto, 1
















Poemas de Tomás António Gonzaga, as ruas onde passou parte da melhor história de Portugal no Brasil. Havia uma poeira fina, amarelada. Essa não foi a primeira imagem mas foi a mais intensa, aquela que perdurou. A primeira foi a do desenho de um vale escuro, denso, sitiado pelo pico do Itacolomi e pela Serra da Mantiqueira, pelos fios de água do Rio das Velhas e do Piracicaba, mergulhado naquela vaga de calor onde cada pedra fala da história e do passado. É impossível não ceder ao peso da história; casarões erguidos em colinas, em ladeiras e becos, pracetas onde ipês frondosos servem de testemunhas à passagem do tempo. Mas a outra imagem, a imagem decisiva, apareceu depois: uma poeira fina misturada às nuvens de calor que subiam e desciam o vale. Foi mais do que isso que levou D. Pedro a chamar-lhe Imperial Cidade de Ouro Preto, substituindo o nome antigo, Vila Rica – o desígnio da história, o centro difusor do independentismo brasileiro que alimentou a Inconfidência Mineira e a conspiração do Tiradentes, a importância económica da região, a tradição de uma cidade que foi capital do barroco brasileiro. De alguma maneira, tanto Gonzaga como Cláudio Manuel da Costa fizeram o melhor da poesia pós-barroca, só comparável em génio ao atormentado e revolucionário Boca do Inferno, o “genial canalha” Gregório de Matos, o escandaloso poeta baiano do século XVI.
Ouro Preto lembra a história das cidades abandonadas por algum mistério do tempo. Há aqui o perfume da maldição e do castigo por, nesses tempos de glória, a riqueza dos seus habitantes ter levado a cobrir varandas e fachadas com folha de ouro. Isolada do mundo, escondida no vale, Ouro Preto fomentou aquela luxúria da decadência e foi um centro produtor de música, de pintura, de escultura, de literatura – e de contemplação, a mãe de todos os vícios artísticos.
Ao crepúsculo, Ouro Preto recebe os seus fantasmas, um a um. Eis a contemplação como um dos elementos da luxúria; não é por acaso: ao observar o vale desaparecendo sob a escuridão, percebe-se por que razão há cidades brasileiras a viver tanto o passado e os seus mistérios.

outubro 22, 2007

Rio de Janeiro violento: Os Insones












Samora é negro, mora no Leblon e quer mudar o mundo. Sofia é branca, mora em Ipanema e está desaparecida. Seu irmão Felipe coleciona armas escondido dos pais. Mara Maluca é meio mulata, meio índia, mora na favela e é capaz de atrocidades inenarráveis. Chayene pinta as unhas de vermelho e negro e quer ser atriz. São todos muito jovens. É esta a matéria de Os Insones, romance de Tonny Bellotto publicado pela Companhia das Letras. Começa assim:
«No futuro ele vai invadir a cidade. Por enquanto é só paisagem: mar, mar, mar. Do outro lado, pensou, a África. Olhou em torno, o quarto era pequeno. Colchão, mesa, duas cadeiras, livros e CDs espalhados, CD-player, mochila, garrafinhas d'água e uma janela. Lá fora gente falando, rádio ligado, cachorro latindo e o esgoto aberto. Como se a África estivesse ali mesmo. Uma velha subia os degraus acompanhada de um garotinho preto. Luger cromada enfiada dentro da bermuda vermelha, o garoto percebeu que era observado.»

maio 07, 2007

Cony reeditado

Carlos Heitor Cony vê reeditado Pessach, a Travessia, originalmente publicado em 1967 -- o seu livro mais próximo do fascínio judaico. Extracto pode ser lido aqui. Edição Alfaguara/Objetiva.

Angola no Brasil













De Ruy Duarte de Carvalho acaba de sair (edição Companhia das Letras) Os Papéis do Inglês (edição portuguesa na Cotovia).

abril 14, 2007

O biógrafo.

Fernando Morais é o biógrafo de Olga Benário e de Assis Chateaubriand. Agora, antes de se lançar em dois livros oh-la-la (um sobre o seu amigo e ex-dirigente do PT, José Dirceu, e outro sobre o seu amigo Paulo Coelho, uma biografia bem volumosa), publica Montenegro, as Aventuras do Marechal que Fez uma Revolução nos Céus do Brasil. Uma história prodigiosa. Entrevista do autor à Época.

Olha!












Olha o novo livro de Paulo Coelho! Chama-se A Bruxa de Portobello (edição Planeta). A protagonista chama-se Athena e é filha adoptiva de uma libanesa. Em Londres decide investigar por que razão a sua mãe biológica, uma cigana, decidiu abandoná-la.

Top.

Livros mais vendidos segundo a contabilidade da Folha de São Paulo.

As mulheres, ah, as mulheres.












Aí está um romance sobre o mundo em que as mulheres inverteram já totalmente os papéis no jogo do sexo. Ubiratan Marruek e A Corrida do Membro (edição Objetiva). É o romance que estou a ler. Veja mais aqui.

Marcelo Rubens Paiva, dois livros.












Não És Tu, Brasil, é uma história sobre o Brasil da ditadura e o momento em que os torturadores foram deixados à solta:
Em 1970, o cerco aos guerrilheiros da VPR — Vanguarda Popular Revolucionária, organização de guerrilha comandada pelo ex-capitão Carlos Lamarca —, no Vale do Ribeira, levou os militares a repensarem a guerra contra-revolucionária. O episódio conhecido como “A Guerrilha do Vale do Ribeira” impôs uma surpreendente derrota aos mais de mil e quinhentos homens das Forças Armadas que perseguiam cinco guerrilheiros, entre eles Lamarca. Mais aqui.
Quando a Blecaute, é uma reedição (revista, verdadeiramente) de um romance dos finais dos anos oitenta, agora disponível de novo.

Para quem pode, não perca as saborosas crónicas de Marcelo no Estado de São Paulo.